No dia 5 de Outubro de 2023, o Grupo Desportivo Cova-Gala completou 46 anos de existência.
No decorrer destes 46 anos de vida, muito trabalho foi realizado, muito sacrifício foi feito em prol do Grupo Desportivo Cova-Gala . Inúmeros homens e mulheres, várias gerações de atletas, médicos, massagistas, roupeiros prestaram um contributo valioso e quase anónimo.
Mas, há datas, que pelo seu significado, são marcos que nunca mais se podem esquecer..
Nessa data, teve lugar a primeira Assembleia Geral do Cova-Gala.
António Agostinho, nessa altura, jovem jornalista, acompanhou o acontecimento, do qual fez uma reportagem publicada no extinto semanário da Figueira da Foz, “barca nova”.
“Unir duas populações, cujos povoados naturalmente se fundem, é o grande objectivo do Grupo Desportivo da Cova – Gala.
Fundado em 5 de Outubro do ano passado, pretende proporcionar aos seus associados actividades desportivas e quando houver possibilidades, também recreativas e culturais .
Legalizado em 19 de Maio passado, tem sido gerido por uma Comissão Directiva .
Realizou em 9 de Junho de 1978, em casa emprestada, na sede do Centro Social da Cova e Gala, a sua primeira Assembleia Geral , com a seguinte ordem de trabalhos :
1º - Apresentação de contas ; 2º - Informações ; 3º - Apresentação e A provação dos Estatutos ; 4º- Eleição dos corpos gerentes .
As contas, foram aprovadas por unanimidade .
Seguiram-se varias informações a perguntas formuladas por diversos sócios .
Os estatutos , depois de discutidos, foram aprovados também por unanimidade .
Logo após, procedeu-se á eleição dos novos Corpos Gerentes, ficando eleita por maioria , a única lista apresentada, assim constituída :
Assembleia Geral : Presidente, Carlos Alberto Jesus Lima ; 1º Secretário, António Catulo ; 2º Secretário, Carlos Mano .
Direcção : Presidente , José Lima ; Vice-Presidente, António Lebre; Secretários , Domingos Casqueira e Tó Samuel ;Vogais Alexandre, Joao Cura e Gafanhão, Suplentes Armando, José Luís Ramos e José Xico.
Conselho Fiscal: Presidente, Nelson ; Secretário, Domingos Roda ; Relator, Luís Pereira Mano .
O Grupo, por enquanto, só se dedica á pratica do futebol.
Tomam parte em torneios populares, tendo como objectivo imediato, a sua integração na 3ª Divisão, do Distrital A . F .de Coimbra .
Para isso têm e ser torneados diversos obstáculos. A curto prazo, as necessidades mais prementes passam pela construção dos balneários do campo de jogos, vedação do mesmo, equipamentos, bolas, etc.
A situação financeira, como é norma nos pequenos clubes, constitui outro problema, dado que o Clube possui somente 205 sócios. Outro assunto a resolver, diz respeito à sede.
Presentemente, nem segurança há, pois os equipamentos são guardados numa casita, para o efeito cedida por um carola.
As entidades competentes, têm uma palavra a dizer. São pequenos clubes como este, que fomentam o desporto, a cultura e o recreio nas pequenas aldeias do nosso País.
Mas o Clube, essencialmente, tem de contar com a sua massa associativa. Da sua ajuda, do seu interesse, do seu carinho, depende a vida futura da colectividade.”
Porém, as minhas memórias desportivas recuam ainda mais no tempo.
À década de 60 do século passado.
Lembro-me dos terríveis jogos da Gala contra a Cova (que raramente chegavam ao fim, pois pelo meio aconteciam, não raras vezes, cenas de pancadaria feia, com pedrada e tudo...), disputados nos quintais, ou no campo de solão que a Terpex destruiu.
Lembro-me da água fresca, cristalina e pura do poço do T´Zé Maia, meu bisavô, que bebiamos pelo balde a seguir às terríveis pugnas futebolísticas.
Lembro-me de alguns dos parceiros das “futeboladas de pé descalço”.
Alguns, que por terem trilhado os difíceis caminhos da emigração, vejo de quando em vez, outros porque já partiram para outra dimensão, recordo com saudade.
Recordo os putos que nós então éramos!...
O Xixão, o Luís Rodesiano (o parte traves), o Luis da Tininha Rata, o Quinito, o Tó Tainha, o Alfredo da Ló, o Miquelique, o Manel Vidal, o Zebras, o Marinel, o Bolacha, o Zé Luís Pata, o Capela, o Tó Luís São Marreca, o Laranja, o Zé da Cabaça, o Calhau, o Zé Minas, os Ratos, os Bicos, o Zé Elisio, o Luisito Pata, os Sapateiros, o Rogério Bicho, o Zé Virgilio, o Guilherme, o Zé Adelino (o Mike), o Zé Cravo, O Zé Pedro Bio, o Steel, o Lebre, os Pocinhas, o Tó da Maia... e tantos , tantos outros!...
Para nós, na altura, o resultado, ainda que o jogo não contasse para nada, era mais que importante: era fundamental. Era uma questão de honra! ...
A rivalidade era terrível! ...
O que estava em causa era a Gala! ... O que estava em causa era a Cova! ....
Hoje, os putos da Cova e da Gala jogam juntos.
Têm um Clube comum – o Grupo Desportivo Cova-Gala .
Têm uma bandeira para dignificar, promover e divulgar – a Freguesia de S. Pedro.
Muitas décadas depois, os putos da minha Terra do século XXI, têm outros horizontes.
Aprenderam que o desporto pode ser uma lição de vida.
Ensina a vencer.
Mas também pode ensinar a perder.
Mais ainda: pode cimentar uma fraterna união.
Daí, ser muito importante a obra que, desde 1977, os carolas que têm passado pelas Direcções do Grupo Desportivo Cova-Gala têm realizado.
Eventualmente, sem se aperceberem da verdadeira dimensão do seu trabalho, realizaram uma obra exemplar.
Promoveram o desenvolvimento físico, saudável e harmonioso, de crianças que não tinham outras alternativas para praticar desporto.
Mas, talvez mais importante do que isso, que já não era nada pouco, ajudaram a preparar largas dezenas de putos para as agruras vida.